segunda-feira, 21 de março de 2011

Burnout em Atletas - Psicologia Esportiva

Por: Rafaela Bertoldi
Psicologia do Esporte


A cobrança de técnicos, dirigentes, pais e preparadores físicos para alcançar resultados e treinar durante o ano inteiro com energia e qualidade intensificou-se na última década, devido, em grande parte, aos contratos milionários, ao marketing e ao status alcançado por atletas bem-sucedidos. Mas o preço por esse foco centrado no treinamento e no vencer a qualquer custo, pode ter contribuído para o surgimento do Burnout, que tem tornado-se um dos problemas mais significativos no mundo dos esportes, chegando a abreviar muitas carreiras promissoras.
O Burnout pode ser entendido como uma resposta psicofisiológica de esgotamento causado por esforços excessivos de treinamento e competições esportivas. Sendo que, o mesmo se caracteriza pelo esgotamento, tanto físico como emocional, na forma de perda de preocupação, energia, interesse, confiança, sentimentos de baixa realização pessoal e profissional, auto-estima baixa, fracasso e depressão. Isso é freqüentemente visto, em nível de performance diminuída (WeIinberg e Gould, 2008).
Entretanto, o Burnout em atletas se origina de modo mais marcante a partir da incompatibilidade dos planos e metas iniciais dos mesmos na modalidade esportiva como as demandas crônicas de cunho sócio-psico-físico do próprio esporte, podendo ocasionar como uma das características mais relevantes, o abandono da modalidade esportiva.
Foram desenvolvidas três teorias para ajudar a explicar o Burnout no âmbito do esporte. Cada uma das teorias tem importantes contribuições para o entendimento desse fenômeno que afeta o esporte mundial. A primeira teoria desenvolvida por Smith (1986), busca explicar o Burnout no esporte com base no modelo afetivo-cognitivo de estresse, que consiste em componentes psicológicos, fisiológicos e comportamentais. Sendo que, cada um desses componentes é influenciado pelo nível de motivação e pela personalidade, o que significa dizer que a reação ao estresse no esporte perpassa pelos referidos níveis, sendo esses que determinam o enfrentamento ou o colapso da situação.
Para Smith 1986, quando são colocadas altas demandas ao atleta, tais como pressão para vencer competições diante dos maus resultados e cargas excessivas de treinamento, o atleta poderá produzir alterações fisiológicas negativas (como dores musculares), bem como respostas psicológicas negativas (como diminuição da motivação), essa queda vertiginosa da performance, pode conduzir o atleta ao abandono do esporte.
Já a segunda teoria de Silva (1990), compreende o Burnout pelas respostas negativas provocadas pelo excesso de treinamento. O autor propõe que o treinamento físico estressa o atleta física e psicologicamente e pode ter efeitos positivos e negativos. A adaptação positiva é um resultado desejável do treinamento tal como sobrecarregar o corpo fazendo uma quantidade de trabalho de corrida de velocidade, a fim de tornar-se mais rápida. Entretanto, o treinamento excessivo pode resultar em adaptação negativa. Hipoteticamente, a adaptação negativa leva a respostas negativas, como treinamento excessivo e cansaço, que eventualmente resulta em Burnout.
Finalmente, a terceira teoria desenvolvida por Coackley (1993), tem como a razão real de Burnout, mais especificamente em atletas jovens, está relacionada à organização social de esportes de alta performance e a seus efeitos sobre questões de identidade e autocontrole. O autor afirma que o Burnout aparece porque a estrutura de esportes altamente competitivos não aceitam que os jovens desenvolvam uma identidade própria: eles não conseguem conviver tempo suficiente com seu grupo de iguais fora do contexto esportivo. Portanto, atletas jovens têm sua identidade associada exclusivamente ao sucesso no esporte, o estresse associado ao fracasso pode conduzir ao Burnout.
Conclui-se que, o conhecimento do Burnout, por parte dos profissionais envolvidos com o esporte, pode auxiliar na prevenção do mesmo.


Referências Bibliográficas

COACKLEY, J. J. Burnout among adolescent athletes: A personal failure or social problem? Sociology of Sport Journal, v. 9, n. 3, p. 271-285, 1993.
SMITH, A. E. Toward a cognitive-affective model of athletic burnout. Jounal of Sport Psychology, v. 8, p. 36-50, 1986.

SILVA, J. M. An analysis of the training stress syndrome in competitive athletics. Journal of applied sport psychology, v. 2, p. 5 -20, 1990.

WEINBERG, R.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício físico. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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