quinta-feira, 10 de julho de 2014

Fisiologia do Exercício Aplicada ao Futsal

Fisiologia do exercício aplicada ao futsal – relato de estudo

Um dos principais determinantes para o alcance da excelência esportiva é a realização de treinamento sistematizado que envolva aspectos técnicos, táticos e físicos específicos à modalidade (OWEN et al., 2012). A melhora ou não do desempenho esportivo é fortemente influenciada pela carga de treinamento de cada sessão, assim como pela sua distribuição ao longo de uma temporada.
O nível de estresse imposto ao organismo do atleta depende do treinamento prescrito (ex.: volume da sessão, duração atividades), e determina as adaptações sistêmicas desejadas após o treinamento. A resposta ao treinamento pode ser facilmente medida pela frequência cardíaca (FC) e/ou pela Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), por exemplo. A utilização da FC como medida de intensidade é baseada na associação positiva entre a FC e o consumo de oxigênio durante exercícios dinâmicos submáximos (ASTRAND e RODAHL, 2006), enquanto a PSE possui um caráter psicofisiológico, pois integra informações centrais e periféricas no organismo (BORG, 1982). Além disso, o conhecimento prévio de informações acerca das demandas fisiológicas de treinamentos e competições permitem a estruturação de treinamentos mais objetivos e eficazes para o desenvolvimento de capacidades físicas, habilidades técnicas e táticas dos atletas em conjunto (BORRESEN; LAMBERT, 2009).
Estudos que investigaram partidas oficiais de futsal demonstraram que jogadores mantém uma intensidade de 85 a 95% da frequência cardíaca máxima (FCmáx; MARTIN-SILVA et al., 2005; BARBERO-ALVAREZ et al., 2008, RODRIGUES et al., 2011). Em relação às demandas de treinamentos de futsal, MILANEZ et al. (2012) observaram que jogadores permaneciam em média 73% do tempo total de treinamentos técnico-táticos abaixo do limiar ventilatório (correspondente ao limiar de lactato) e apenas 27% acima dessa intensidade. Dos estudos que investigaram atividades típicas de treinamentos técnico-táticos, Castagna et al. (2009) observaram uma intensidade de 90% da FCmáx em simulações de jogo (4 períodos de 10 minutos e 5 min de intervalo); enquanto Arins e Silva, 2009 observaram intensidade entre 71 e 90% da FCmáx nessa mesma atividade (duração de 20 minutos).
Sabendo do pequeno número de informações disponíveis na literatura da área, buscamos caracterizar a demanda metabólica de treinamentos de futsal profissional (estudo ainda não publicado). Em 37 sessões de treinamento técnico-táticos realizadas durante 8 semanas sem jogos oficiais, a FC foi medida durante todos os treinos e a PSE (escala de 10 pontos; Foster, 1996) foi perguntada a cada atleta entre 15 e 20 minutos após o término das sessões, utilizando o seguinte questionamento: “Como foi o seu treino hoje?”. Os treinamentos consistiam basicamente na realização de atividades que simulassem situações de jogo (dimensão da quadra, número de atletas envolvidos e substituições constantes de jogadores) com modificação do objetivo tático, e algumas com mudança de número de jogadores envolvidos ou tamanho da quadra.
A intensidade média das sessões foi de 74±4% da FCmáx, o que correspondeu a um gasto energético de 846 kcal/sessão, sendo que em aproximadamente 49% do tempo a intensidade foi maior do que o limiar ventilatório medido em um teste máximo em esteira. Ao final dessas sessões os jogadores atribuíram em média nota 5 à PSE (correspondente a “difícil” na escala), porém ela não teve associação direta com a intensidade do treinamento medida pela FC (r=0,06; p>0,05). Esse resultado pode indicar que os jogadores avaliados consideraram outros aspectos que não apenas físicos para atribuição de uma nota ao treinamento, reforçando a característica psicofisiológica da PSE. Assim, ela pode auxiliar na realização de ajustes em diferentes aspectos do treinamento ao longo de uma temporada.
A intensidade de atividades realizadas nos treinamentos também foi mensurada. Durante 10 minutos, o 6x4 teve intensidade média de 82±6% da FCmáx enquanto o 4x4, de 80±7% da FCmáx (ambas tiveram pausas para intervenções do treinador). O coletivo, com dois tempos de 10 minutos corridos e intervalo de 5, teve intensidade média de 80±5% da FCmáx. Todas as atividades foram realizadas em quadra de 36 m x 20 m e não foi observada diferença estatística entre elas. Esses resultados indicam atividades com características semelhantes aos jogos aproximam a demanda metabólica do treinamento àquela vivenciada em competições, sendo uma boa alternativa para a simulação do estresse fisiológico do jogo. Além disso, pequenas modificações do número de jogadores envolvidos ou das regras de uma atividade não interferem na intensidade média das mesmas.
Estudos como este são realizados com objetivo de auxiliar técnicos e preparadores físicos no planejamento dos treinamentos diários para desenvolvimento conjunto dos diferentes aspectos necessários ao bom desempenho dos jogadores. Apesar de ainda serem poucos os estudos sobre futsal, o interesse por investigações nessa modalidade tem aumentado no Brasil. Nesse sentido, a troca de informações entre pesquisadores e profissionais do futsal é de suma importância para tornar a Ciência do Esporte uma aliada no desenvolvimento da modalidade no país.

Carolina Franco Wilke
Analista Técnico-Científica do Minas Tênis Clube – MG (Núcleo de Integrações das Ciências do Esporte)
Mestre em Ciências do Esporte pela UFMG

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